quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Comentários sobre o ENADE


Domingo, 8 de novembro, meio-dia, fomos nós estudantes encarar a prova do ENADE. Nesse dia, eu estava desanimado para fazer o teste, haja vista as várias críticas tecidas na matéria anterior desse blog acerca da educação brasileira. Pensei que iria me deparar com uma prova encomendada a uma fundação responsável por concursos públicos e nossa universidade seria avaliada mediante uma avaliação de marcar X. Por capricho do destino, enganei-me. A prova nada se coadunava com a lógica demasiado objetiva e decorativa, convenhamos, dos concursos jurídicos. Malgrado o descaso de alguns para com a prova( abandonando a sala de aula em menos de 1 hora), decidi levar a sério o exame. Levei três horas e meia para fazer, com muito esforço, dada a fome que me ocorreu no local.

Percebe-se o enfoque interpretativo e político da prova, com temas como judicialização da política, repercussão geral no recurso extraordinário, reforma do judiciário,anistia aos militares, jurisprudências conhecidas dos tribunais superiores(nepotismo), sonegação de impostos e confissão, enfim, temas de bastante relevância na sociedade, que normalmente estão estampados nos jornais. Bom isso, pois o alunado percebe sua importância frente à sociedade como futuro operador do Direito. Porém, conversando com o colega Pedro Ernesto nos corredores da UNICAP, ele comentou com argúcia o seguinte: `` Estão cobrando algo que não está sendo debatido na nossa universidade, a política atrelada ao Direito. Querem que nos posicionemos dentro do espectro político sem dar-nos subsídios teóricos na academia.`` Verdade. Tive de concordar com ele. Inobstante a ótima qualidade da prova, fica essa crítica, que, por sinal, já foi exposta no blog diversas vezes. Que isto sirva de alerta às universidades e que melhoremos nosso ensino, politizando-o.

Álem da avaliação feita para os alunos, o MEC(Ministério da Educação) avalia as universidades por alguns critérios, como por exemplo, a titulação e preparação dos professores, a infraestrutura da instituição, programa pedagógico, etc. Outro fator que deve ser bem atentado é a produção acadêmica, pois é na universidade que se processa a evolução científica e cultural da humanidade. É ela também o principal critério para avaliar quais são as melhores universidades do mundo, que atualmente tem no seu topo a Universidade de Massachusetts (MIT- Massachusetts Institute of Technology). O Brasil só possui uma entre as 100 melhores, a USP( Universidade de São Paulo), ocupando a posição 38. O nosso país está com 12 universidades dentre as 500 melhores. No ranking dos países com as melhores universidades, o Brasil está em nono lugar, atrás de Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Canadá, Taiwan, Suécia, Espanha e Japão. É uma posição razoável, e que evidentemente pode ser melhorada. Na verdade, o grande problema educacional desse país é a base, vide os comentários dessa matéria.

Nota-se, folheando a avaliação, a importância do Direito Constitucional e da Teoria do Estado, matérias que deveriam ser mais aprofundadas no curso jurídico. Com a reforma recente do currículo, houve uma valorização desses temas, mas ainda é necessário maior estudo de tais matérias, pois é com elas que o Direito se relaciona com a história, a economia, a filosofia, o jornalismo e , sobretudo, à política. Celso Furtado, Gilberto Freyre, Joaquim Nabuco e Guimarães Rosa tiveram textos nas provas, provando-se que as ciências sociais são convergentes em muitos pontos. Voltamos ,desse modo, à discussão da última matéria do blog, em que eu incitei o maoir debate das ciências socias dentro do curso jurídico e das demais carreiras.

Para terminar tenho que admitir a qualidade do ENADE e de seu método avaliativo, que ele sirva de exortação às universidades para um aprendizado mais realista, contextualizado e político, afinal de contas, Paulo Freire dizia que educar é um ato político. Para os que diziam que eu só reclamava e criticava, está aí a resposta. Grande abraço.