sábado, 31 de outubro de 2009

Propostas para uma melhor formação educacional


Imbuído da crença de que podemos melhorar nosso carcumido sistema de ensino, venho propor algumas ideias para que possamos evoluir e abandonar as últimas posições em rankings de educação no mundo. Sei que muitas das propostas aqui veiculadas serão rechaçadas desde logo por grupos conservadores medíocres, incompetentes e incultos.

Em uma tarde de sábado pacata, assisti a alguns vídeos no Youtube do grande educador, político, escritor e outrora membro da Academia Brasileira de Letras: DARCY RIBEIRO. Foi ele responsável por uma política educacional coerente que nada se assemelha com o que se passa na atual gestão( vejam o artigo sobre o MEC de Paulo Ghiraldelli Jr. em seu blog). Fundou juntamente com Anísio Teixeira a Universidade de Brasília e a Universidade Estadual do Norte Fluminense, contribuindo sobremaneira para a evolução educacional brasileira. Ele foi uma inspiração para a matéria que escrevo nesse momento e que tentarei defender com todas as forças na minha futura carreira acadêmica.

Encontro-me no terceiro período do curso de Direito e sinto que perdi um pouco da empolgação nos estudos do início em 2008. Isso se deve a uma série de fatores que tentarei sublinhar nesse espaço, fazendo um paralelo com a nossa situação educacional. Depois de muita indecisão quanto ao curso que iria seguir( já fiz medicina na UFPE e ciência da computação na UNICAP), optei por Direito por alguns motivos, o principal foi porque gostei da matéria quando estudei para um concurso público. Frequentando salas de preparatórios de concursos, percebi que o estudo para tal fim é algo atrofiado, limitado, um estudo sem reflexão crítica, demasiado objetivo. Apostilas, lousas e cuspe!!!!!!Isso é péssimo, pois nossos profissionais no uso de suas atribuições não irão decorar, terão que pensar , debater , refletir e agir. Portanto, não é preciso ser um Phd para notar que essa lógica está equivocada. E pior, que essa lógica tomou força com a abertura desmedida de preparatórios para concursos( fins lucrativos) e tenta se imiscuir dentro das universidades, principalmente nos cursos jurídicos.

Vejo que ALGUNS professores tentam seguir essa linha de raciocínio, com aulas desvencilhadas da realidade jurídica e completamente alienantes, sem paralelos com a nossa realidade política, em síntese, esquemas pincelados enrustidos de concursos públicos. Decorar centenas de ementas(resuminhos) de jurisprudência sem ao menos saber em que área do Direito o aluno irá enveredar. Para que um futuro juiz do trabalho terá que decorar julgados de crimes???? E o oposto, para que um advogado criminalista precisaria ser expert em jurisprudência trabalhista???? São perguntas que não cabem respostas, quando coloco aos alunos e professores, eles tergiversam. Lembro, desse modo, Sócrates e seu método de refutação... Há de se encaminhar melhor o aluno na sua evolução dentro da academia para sua vida de profissional, sem torná-lo experto em matérias não pertinentes a sua atividade diária. Concluo que o aluno termina perdido em um universo imenso de informações, sem se especializar de forma coerente e otimizada. No mundo atual ,de complexidades múltiplas e idiossincráticas, não podemos esperar que as pessoas dominem todas as informações nas suas mais diversas minúcias. O ideal é ter uma noção geral das informações e se aprofundar na sua área.

Tenho trazido à luz um debate interessante entre colegas da universidade, alguns concordaram, outros não. Para que o povo brasileiro tenha uma melhor formação política e social, deveríamos inserir mais conteúdos das ciências humanas e sociais( história, filosofia, sociologia, ciência política, antropologia, etc) em todos os cursos. Enxugar-se-ia esse excesso de minúcias técnicas que comentei alhures e teríamos pessoas mais bem informadas politicamente e mais cultas, superando-se dessa maneira a alienação política que parece ter assolado esse país( junto com a sem-vergonhice...). O curso de ciências jurídicas e sociais faria jus ao nome!!! E isso para todos os cursos, não apenas o de Direito. Eliminar informações detalhistas e politizar o nosso povo através da leitura de jornais, de livros de filosofia, história e sociologia. Às vezes comento com conhecidos: para que estudamos, no ensino médio, números complexos em matemática ou o império capetíngeo francês, ou ainda mais estapafúrdio ,cálculos químicos de solução tampão!!!!!!???? ( pH= pKA + logsal/ácido)haeeahaha.Só mesmo interesses políticos de classes detentoras do poder com o objetivo de alienar o seu povo explicam tais disparates educacionais. Enfim, a proposta é de retirar o que não é necessário e inserir aquilo que é relevante. Estudar o que não precisa e não estudar o que é preciso é insensatez. Os países mais ricos do mundo não cometem esse equívoco.

Também não posso fazer daqui um Tribunal de Nuremberg para a educação brasileira, tenho a obrigação de elaborar um panegírico, um louvor, uma homenagem a alguns professores de nossa universidade e dos colégios. Não posso deixar de rememorar os mestres do colégio GGE, que introduziram em seus alunos o virtuosismo nos campos das ciências exatas e a reflexão crítica na esfera das humanas. Figuras como Thales Bentzen, Carlos Japa, Luís Carlos, Germano Sobral, dentre tantas outras figuras ilustres. Na academia lembro José Elias de Moura Rocha, Natanael Sarmento, João Chaves, Ivo Dantas, Jayme Benvenuto, dentre tantos outros que ainda terei a honra de conhecer. O trabalho dessas pessoas é transcendente , já diria Henry Adams: `` Um professor sempre afeta a humanidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina.``.

É isso, amigos. Posso não ter a força política necessária para empreender essas mudanças no meu país, mas existe algo que não pode ser tirado de mim, a consciência. Com ela, dissemino ideias para que possamos melhorar nossa educação. Ósculos e amplexos.


4 comentários:

  1. Aí vai um link para uma matéria publicada pelo jurista e professor da UFPE Ivo Dantas sobre a situação educacional, principalmente do curso de Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Vejam o descaso público dos políticos para com a educação brasileira.
    http://jusvi.com/artigos/31290

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  2. André, esse seu estudo pela educação está me fazendo refletir também. Acabei de ler o artigo de Ivo Dantas e fiquei estarrecido, cada dia me surpreendo mais com esse país que faz jús à fama que tem no estrangeiro. Escreva mais sobre isso que é muito interessante.

    Abs,
    Felipe McMont.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. A perspectiva de um bom ensino jurídico no Brasil, infelizmente, está um pouco longe de ser alcançada, mas nem por isso devemos deixar de debatê-la e procurar solucioná-lo. Diante da diversidade de cursos preparatórios para concursos, é possível enxergar que grande parte dos bacharéis em Direito só estão interessados em ser aprovados em concursos públicos e se tornarem juízes, promotores, procuradores etc, esquivando-se da questão crítica e filosófica em que o Direito está inserido.
    Parece-me que as pessoas estão fazendo do curso de Direito um tipo de fast-food acadêmico.
    Saliento, ainda, que o mérito não está somente em passar em um bom concurso, e sim ser um cidadão interessado nos problemas da sua sociedade e na mudança social, que saiba lidar com todas as classes socias e, principalmente, que lute pela justiça de forma pacífica. Isto, obviamente, os cursinhos não fazem (era para ser o papel da universidade e do próprio indivíduo, que, lamentavelmente, não contribuem!).
    Não basta assumir um bom cargo público. Há de se conhecer a sociedade em que se vive, contribuir para sua melhoria, mesmo que apenas mediante o debate, as críticas e as propostas de soluções, como é o caso desse blog.
    Parabéns pela iniciativa! E que o blog surta o seu efeito conscientizador em meio a uma população tão politicamente alienada.

    Abraços,
    Liana

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